Menino

Era um menino valente e caprino, cabelos curtos, rostos bonito, uma cicatriz na sobrancelha esquerda. Falava um português torto, estava algemado, havia matado. Sua fala e seus gestos deixavam claro que a vida humana lhe era indiferente. Alguém o jogou no Youtube e de lá acabou por se transformar em um “monstro celebridade” no Facebook.
Centenas de comentários pediam a sua execução. As pessoas se referiam a ele como lixo humano, traste, imundice …
Diante do Smartphone que o filmava, ele parecia não ter medo, ódio ou qualquer outro sentimento que nos faz gente. Se tiver oportunidade mataria novamente, disse e sorriu.
Quando li e assisti, chorei de soluçar.
Chorei por aqueles que morreram, pelas famílias que ficaram com o vazio, pelos filhos sem pais, pelos maridos sem mulheres, pelas crianças cuja vida lhes foi prematuramente roubada.
Peço perdão a vocês que leem o vinhetas, mas chorei demasiado mais pelo rapaz.
A minha alma se retalha ao encontrar alguém que não provou a mais nobre virtude.  Existir sem experimentar o amor é algo assombroso, triste, demasiadamente triste.
Se tal menino tivesse tido alguém que o amasse, que o beijasse, que sorrisse aos seus gracejos de bebê. Se ele tivesse aprendido a contemplar a flor, se ele tivesse descoberto a alegria de ver um bichinho brincar, eu tenho certeza que tudo seria diferente.
Não quero que ele morra, desejo para ele, ainda em vida, a descoberta do amor. Isso, infelizmente não traria mais as pessoas que ele mesmo daqui tirou, mas lhe daria a magnanimidade de pedir, de forma verdadeira, perdão.

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