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O casal feliz e as vacas famintas

O sábado começou com sol e aquela alegria de viver em uma comunidade perdida no meio da floresta. Olhei a geladeira, a pequena despensa e senti o vazio. Sem vinhos, queijos, doces ou outras iguarias. Precisaria pedalar os doze quilômetros que me separam do primeiro supermercado acessível. Ao descer o morro começaram a surgir as teuto-casas de madeirame com seus belos jardins, hortinhas características e, como sempre, sem ninguém as vistas, com exceção daquele jovem casal.
Parei, me aproximei e observei atentamente os dois, com seus carnudos lábios vermelhos quase a sorrir. Provavelmente eles haviam crescido juntos em algum campo, amadureceram, foram acariciados pelo vento, alimentados pela chuva e se nutriram da terra. No tempo certo foram colhidos, enrolados, montados, vestidos.
Para mim, foi como se a vida começasse naquele instante. Pensei em quantas espectativas e desejos a serem concretizados por eles no mundo pós-casamento.
Eufórico, tirei uma foto e, quando tive a oportunidade, compartilhei com Hefan, que trabalha comigo no Jardim Filosófico. Confesso que seu olhar laconico-trágico-depressivo me assustou. Percebi então que essa história de amor e união, assim como tantas outras, nos leva a um só final, porém dividido em tantos olhares. 
Eis o que meu amigo sentenciou…

“Os dois vivem felizes a sua juventude por todo o verão, envelhecem durante o outono e morrem devorados pelas vacas famintas no terrível inverno alemão de -15 graus centígrados.”


As férias em que morri de tanto trabalhar chegaram ao fim! Estou em casa. Felizmente com a tela do Word aberta e minha literatura barata, fodida, traída, jogada, consumista, egoísta, ordinária a todo vapor!
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