A gente (quase) voltou

Em poucos dias embarcarei, junto com Simone, Gabriel e Helena, em uma viagem aos confins de minha própria existência.
A volta ao lar mexe com os ânimos, desperta sentimentos adormecidos, reverbera expectativas.
A euforia se mistura ao medo. A insegurança propagada pela Timeline do Facebook faz brotar, em meu coração, um número sem fim de perguntas, entre elas, a que mais me consome: Estaria o Brasil “involuindo“?
As narrativas telefônicas dominicais com meu pai exortam a violência não mais controlável. O país tropical teria sido, em vez de abençoado, abandonado por Deus?
Poderei eu, com minha família, caminhar na rua sem ser assaltado, estuprado, raptado ou morto?
Poderei eu, enquanto brasileiro nato, expor livremente minhas opiniões e argumentos, sem o medo de represálias que atentem contra minha integridade física?
Poderei eu, em um entardecer paradisíaco da Ilha da Magia, fechar os olhos e sentir o frescor do Atlântico acariciar as minhas bochechas e deixar as mais variadas partículas olfativas adentrarem minhas narinas deixando-me com os olhos em água por lembrar o quanto, algum dia, amei estar ali?
Poderei eu, com meus filhos, sentar a sombra da imponente figueira na histórica praça XV e ali contar-lhes como um dia eu conheci a mãe deles, sem o medo de ter uma arma apontada para a minha cabeça?
Poderei eu, como sempre fiz, distribuir sorrisos aqueles que não conheço, sem com isso ter a sensação de que, algum maluco do outro lado da rua, se revolte e queria partir a minha cara ao meio?
Sei que meus pensamentos são toscos, embalados por um mundo sensacionalista que tem em si o prazer absoluto de disseminar o pavor; incorporado facilmente por pessoas como eu… No entanto é lá, e, somente lá, que em alguns dias eu quero estar.

van gogh