Muita gente tem questionado o fato de eu ter adotado um papagaio. Primeiro eu gostaria de dizer que também concordo que lugar de pássaro é, ou relaxando em alguma árvore frondosa, ou voando, a contrastar com um céu azul.
O caso de Niko é um pouco diferente. Nasceu na Alemanha, em um criadouro sofisticado, desses em que os animais são, aos turvos olhos humanos, bem tratados. Os bichos possuem árvore genealógica, teste de DNA e atestados que comprovam a inexistência de doenças.

papagaioAos três meses Niko foi vendido a uma senhora cujo marido faleceu. O pavor diante da solidão a fez procurar a companhia de um passarinho cuja idade mental se assemelha a uma criança de quatro anos. Após um mês de convivência a mulher adoeceu. O diagnóstico “câncer” a fez passar mais tempo no hospital do que em casa. Niko ficou triste. Não quis mais comer, não tinha lá muitas vontades. Enfim, quando obteve alta de uma internação, a idosa procurou, em vão, algum lugar “decente” para a ave. Não havia Zoológicos ou aviários que o quisessem. A dona do papagaio então escreveu sua pequena história e a fixou em um desses murais de supermercado.
Eis que, em um dos nossos pequenos almoços de mais de vinte pessoas, alguém de minha excêntrica família me trouxe o tal endereço e pediu para que eu ligasse. Mesmo contra a vontade, mas como muitos dos moradores aqui de casa sonhavam com um bichinho de estimação, resolvi averiguar.
Era um ensolarado domingo de manhã quando dirigi até a mulher. A gaiola de Niko estava em uma área de serviço, em cima de uma máquina de lavar roupas. Nós nos olhamos, ele beliscou o meu dedo e depois de alguns minutos eu voltei para casa sem ele. Quando cheguei, uma comitiva me aguardava com absurda expectativa. Sentamos juntos. Falei de ética, daquilo que acreditava sobre o direito de liberdade dos pássaros e quando, naquelas frações de segundo que mudam vidas, o tal de Niko me veio a mente e o medo de que ele pudesse ser maltratado ou mesmo morresse de tristeza em um cômodo apático de uma casa vazia, eu sentei no carro e o trouxe para nós.

niko